Créditos da foto: Bruno Tomaz Gomes da Costa
Essa semana fiz meu primeito cachecol de tricô!
A sensação por ter terminado um feito tão simples foi ímpar... Engraçado como às vezes coisas tão singelas nos fazem tão bem.
Poucas pessoas sabem que eu sou o que os antigos chamariam de "menina prendada" (rs). É, eu sei costurar, bordar e, agora, tricotar.
Comecei a me interessar por esses trabalhos manuais quando pequena ainda e nessa época, precisamente aos 8 anos (pasmem! rs) entrei num curso grátis de tricô, oferecido por uma igreja. Como já era de se esperar, a turma era formada por vovozinhas, com seus sessenta e poucos ou bem mais e eu, menininha e fofinha como era, fui o xodó da turma.
Cresci e o interesse pelas artes manuais sempre me acompanhou, mas já não dispunha do tempo da infância para me dedicar às coisas de que gostava e acabei "pendurando as agulhas".
Bem dentro de mim, sempre soube que isso não era definitivo e o tricô foi uma daquelas paixões que ficam guardadinhas, para as quais eu estava sempre dizendo - "espere que eu te resgato já!"
Pois bem, passei certa vez por um desses armarinhos hipercoloridos de aviamentos e suas linhas me envolveram novamente, como uma teia (inevitável e óbvia comparação)... Não resisti! Cedi. Entrei no armarinho e de lá puxei de mim a velhinha adormecida desde a infância.
Como não poderia ser diferente, minha turma é, mais uma vez, composta por senhorinhas - algumas doces, outras divertidas, outras fofas ou hipocondríacas, mas (guardadas as diversidades) com um coisa em comum: vivência.
É incrível a lição de vida que se pode ter no convívio com gente mais velha.
Essas pessoas, que a nossa sociedade descarta do mercado, nos ensinam coisas que faculdade alguma jamais imaginaria.
Comecei a pensar sobre isso quando precisei de um sapateiro. Explico: já perceberam a dificuldade que é encontrar um BOM sapateiro? Daqueles que tratam do seu calçado com o maior capricho, que fazem um trabalho artesanal mesmo, que leva tempo, sabe?
Eu precisei de um. Foi então que minha mãe viu uma plaquinha em algum lugar e levamos lá nossos sapatinhos... Lá, fomos recebidas por um senhorzinho de setenta e poucos, cabecinha branca, bermuda e chinelos.
Dias depois, terminado o conserto, voltamos lá e encontramos nossos sapatos como novos! O cuidado e o capricho com que nossos sapatos arrebentados, sem salto, sem brilho etc. foram tratados não são comuns nos dias de hoje, esses dias de pressa e superficialidade.
Quando saí de lá com a minha sacola de sapatos "novos", senti uma tristezinha saudosa, imaginando que aquele senhorzinho estava já no fim da vida, teria poucos anos pela frente e, com sua morte, levaria todo aquele conhecimento, aquela destreza, que certamente não passou adiante.
Antigamente, os jovens eram aprendizes. Aprendiam seus ofícios com os avós, pais e vizinhos, que transmitiam tudo que tinham aprendido com seus anteriores. Agora, esse conhecimento é ensinado em escolas técnicas, num processo bem diferente. Não há mais aquela dedicação, não há mais sapateiros! Quando o meu sapateiro morrer, morre com ele mais um representante de uma geração em extinção.
Depois disso, lembrei-me da avó de uma amiga, com quem eu, ainda adolescente, passava horas na cozinha batendo papo. Ela me contava histórias de tempos tão diferentes do meu...
E eu adorava ouvi-la. Lembro que, numa das desilusões amorosas da minha adolescência, ela foi minha confidente e amiga, me consolou e deu conselhos preciosos que preservo até hoje...
Esta senhora já se foi.
A mesma dorzinha no peito senti quando, depois de passar algumas vezes por um quisque de doces que frequento desde novinha, senti falta das balas de vidro (aquelas de coco, douradas e caramelizadas), uma das minhas preferidas. Um dia resolvi parar e perguntar por elas. O dono do quisque disse-me que a tia dele, que era quem fazia as balas, tinha morrido. E com ela, morreram minhas balinhas de vidro...
Estou há tempos querendo escrever sobre este assunto, não sei por que...
Talvez por ter perdido este ano duas tias velhinhas, que, cada uma à sua maneira, contribuíram muito para fazer essa pessoa que eu sou hoje. Talvez por ter sentido tanta falta das minhas balas de vidro. Talvez... Não sei.
Só sei que concluí que o conhecimento se vai junto com aquele que o detém.
Estou aproveitando mais do que nunca minhas aulas de tricô...
2 comentários:
Oi, Ju! Li seu texto e achei mto legal, me identifiquei mesmo. Primeiro pq eu tb fiz um curso de trabalho manual (no meu caso, crochê) quando era criança, numa igreja, xodó de um monte de velhinha. Mas diferente de vc, não fui mto longe, infelizmente esse não era o meu dom... rsrs Segundo pq vc fala da falta que os velhinhos fazem nas nossas vidas qdo se vão... e há dois meses perdi minha avozinha. É mto triste, mas nesse mundo todo mundo vai um dia mesmo. O q temos q fazer é, como vc falou, cada dia tentar extrair ao máximo os ensinamentos preciosos dessas pessoas, e não desprezá-las como faz a maioria.
Seu blog tá show, gostei da sua proposta! Até me animou para fazer algo parecido tbm... rsrs
Bjs, continue a escrever!
Nada melhor que história de vó!
Lindo o texto!
Me deu vontade de comer balinhas de "vidro".
Amei o blog! Vou fazer a ponte lá no meu!
Postar um comentário